segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Ressignificar I - A árvore da Sarah

O Natal é a festa do ano que eu mais gosto. Não somente pela beleza do significado - Isso é indiscutível. Para mim, Católica, o Natal é, junto com a Páscoa, a época mais bonita do ano.
No Natal, Jesus nasceu. E na Pascoa, Renasceu. Gosto mais do Natal que do meu aniversário. O natal é sublime.
Em Dezembro de 2012, eu tinha acabado de descobrir minha gestação. Era a Terceira. Embora eu não tivesse comprovação do sexo da criança que eu esperava, em meu coração, havia a certeza de que era um menino. Ele já tinha nome. Samuel. Alguém a quem eu ia amar mais do que a mim mesmo. Um amor tão intenso, quando o de Jesus por nós.
Acontece que eu não queria falar logo que estava grávida. Eu havia sofrido 2 abortos naquele ano e, a cada perda, era tudo muito sofrido. Eu resolvi que só iria falar, quando a barriga começasse a dar sinais.
Na Semana Natalina, no meu trabalho, houve uma confraternização. Eu me emocionei muito com a apresentação do coral. Não lembro de quase nada. Apenas da interpretação da música "Anunciação", de Alceu Valença. "...tu vens chegando pra brincar no meu quintal..."
Fiquei com essa frase na cabeça e chorei bastante. De felicidade, por estar acompanhada do meu Primeiro Grande Amor.
Comprei enfeites de Natal na cor azul. Naquele ano, minha árvore tava toda azul. Eu tinha certeza de que ele iria chegar.
Os meses se passaram... e, no inverno de 2013, ele me deixou. Foi brincar no céu. Na minha casa tinha um berço vazio...
No natal daquele mesmo ano, a felicidade do ano anterior, parecia ter sido sepultada com meu menino. Nós não quisemos arrumar nossa casa.
E durante 4 anos foi assim...
Não havia sentido para nós arrumar nossa casa para chegada de uma criança, quando a nossa criança não chegou. Nossa "manjedoura" estava vazia. Mesmo com a chegada da nossa Sarah. Nosso arco-iris, não arrumávamos a casa no natal. Ela até demonstrava gostar, desde muito pequena. Em 2015, seu primeiro natal, com quase 9 meses, ela dizia: "noel", quando via qualquer decoração de natal, inclusive varandas com pisca-piscas. (Ela começou a falar pequenas palavrinhas muito cedo 6/7 meses.).
Semana Passada, estávamos numa padaria perto de casa, onde Sarah costuma ir com a gente. Ao adentrar o estabelecimento, viu a decoração de natal. Passou uns 10 segundos admirando, os olhinhos brilhavam. Ai ela disse: que lindo!! ta cheio de Natal aqui!!
A dona da Padaria, que sempre conversa com ela perguntou: você gostou?
E ela: Sim.
A dona da padaria perguntou: Na sua casa já arrumaram a árvore?
Eis que minha menina me pega de surpresa e me deixa sem ação. Sarah disse: Não. Na minha casa não tem natal. A minha mãe não compra.
Senti minha cara sendo arrastada no chão da padaria de tanta vergonha. Desejei um buraco para me esconder. A moça olhou pra mim e disse: "nada, mãe?" Eu apenas fiz um sinal negativo com a cabeça e sai apressada.
Tomei meu café bem rápido e pensando no que Sarah falou. "Na minha casa não tem natal."
Fui trabalhar e fiquei pensando... "na minha casa não tem natal".
Você pode tá pensando: Mas, Patrícia, você privou a menina até agora de ter uma festa de Natal?
A resposta é não. Eu não sabia que aquilo era importante para ela. Ela nunca me pediu (e olha que ela pede muitas coisas). A minha atitude a impedia de viver o natal em casa. Mas não era algo feito conscientemente. Eu jamais retiraria da minha filha o direito de viver algo tão bonito.  Nós íamos a igreja. Ela sabe que Jesus Nasceu. Sabe o que é um presépio. Mas aquilo não existia na casa dela.
Então, perguntei pra ela: Filha, você quer uma árvore de Natal? Imediatamente, ela, pulando de alegria, disse que sim.
A minha árvore estava mofada. não prestava mais depois de passar 4 anos guardada. Compramos outra.
Flávio comprou a maior arvore que viu na loja. Quase não coube dentro de casa. Mas ela, quando viu a árvore montada, não parava de pular, bater palmas e cantar.
E assim, não por mim, mas por ela, depois de 4 anos, o Natal entrou na minha casa. Não pela árvore, mas por eu ter entendido o seu ressignificado.
Se, por um lado, meu menino não pode nascer, por outro, Jesus Nasceu e fez Sarah nascer para encher a minha casa de alegria. Onde ela está sempre é uma festa. É luz, é vida, E por causa dessa vida, eu quis viver mais, para amar a Sarah ainda mais, por ser quem é.
Jesus viveu e morreu para nos salvar.  E ela me salva todos os dias.

Feliz Natal!


segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Sobre escrever, sobre maturidade, sobre opinião.

Sempre escrevi. Não lembro quando comecei. Lembro-me apenas de ter diários, agendas e, depois de algum tempo, fotolog, Orkut, Facebook, blogs e toda essa danação de redes sociais, as quais dispomos hoje.

De tanto amar a escrita,  nunca consegui colecionar papéis de carta, porque escrevia neles cartas para meus amigos e familiares.
Tá no sangue. Que ama escrever, não para. 

Sou arquiteta de formação. Amo a profissão que escolhi. Porque considero que o desenho - a forma de linguagem a qual usamos para expressar nossas ideias - uma maneira de escrever mais lúdica. Ilustrativa. O fato é que mesmo meus memoriais descritivos, nos projetos da faculdade e, atualmente, nos projetos profissionais, são verdadeiras redações. Só que 35 linhas não seriam suficientes. 

De vez em quando, dou uma olhadinha no passado e vejo meus escritos de 10...15... 20 anos atras. Não me reconheço naqueles textos. Apesar disso, nunca joguei fora as minhas agendas, pois mesmo não me identificando com aquela escritora de outros tempos, não sinto vergonha de dizer que evolui, sob alguns aspectos (e involui em outros). 


Eu vou citar o Cazuza: "O tempo não pára". A vontade de escrever, também não. Muda o meio da escrita, mas não muda o desejo de dizer o que sinto, através das palavras. Muda também a opinião. O modo de enxergar a vida. E nós, como organismos dinâmicos que somos, mudamos junto.

Escrevermos sobre o momento, sobre o que vivemos e, tudo muda o tempo inteiro. Comigo não seria diferente. 
Talvez seja senso de autocrítica, ou perfeccionismo.  Não. Eu, hoje, não diria desta forma. Mas também pode ser maturidade. Nem ser definir direito a palavra maturidade. Mas penso que seja a maneira que encontramos de ver e rever as coisa - as mesmas coisas - com lentes diferentes.

A Patrícia que escrevia há 2 décadas, permanece lá. Viva nas agendas. Se eu parar para ler algumas delas, posso muito bem vê-la na minha frente. De melissa com meias, mochila nas costas, reclamando de um monte de coisas e cheia de sonhos a serem realizados. Se eu pudesse dizer a ela tudo o que ela iria passar, talvez não o fizesse, para deixar que ela experimentasse cada sensação, que cada sorte ou infortúnio lhe causou. Ela descobriria sozinha cada fase, assim como foi, até chegar na Patrícia que está escrevendo agora. Com menos erros de português e com mais histórias para contar. 


Pode ser que a maturidade ou a idade mesmo, nos leve a encontrar algumas virtudes como, por exemplo a tolerância e, em alguns casos, a paciência. E isso pode fazer toda a diferença nos nossos escritos.
Para mim é perfeitamente compreensível. Em alguns momentos nos despedimos do antigo eu, para dar continuidade a nossa própria história
 E o que nos resta então?


Dar boas vindas à nova pessoa que nos tornamos e, de vez em quando olhar para trás e dar aquela piscadinha pro nosso antigo eu, que não ficará esquecido. Mas que viverá, para sempre,  no lugar ao qual pertence. 

segunda-feira, 6 de março de 2017

Sobre todas as mães

O dia amanheceu cinza. Chuvoso. Há dois anos minha mãe nos deixava. E ainda hoje sinto por isso. Naquele dia, o sol brilhava forte, como se fosse preparado para recebê-la, com muitas cores e luz. Mas hoje...O dia inteiro não será fácil e ele mal começou e ainda está assim, cinza, para me lembrar de como ficou uma parte de mim, com a partida dela. Não foi fácil acordar, levantar e ver que hoje é dia 06 de Março, um dia que não gosto de lembrar. Mas é preciso ir trabalhar. Ainda estou me recuperando de uma gripe, os incômodos no corpo, me convidam a ficar na cama, mas é preciso se levantar. O trabalho espera. A filha chama. O dia clareia e o café precisa estar pronto. O mundo continua igual para todos. Se hoje é um dia ruim para mim, não é para a maioria das pessoas e elas não sabem disso. Talvez nem precisem saber.
Cada um carrega o que suporta - é o que dizem - não sei como tenho suportado esse tempo sem ela.
A mãe da gente é nosso elo com a vida. É uma espécie de âncora que nos prende, mas também que nos impede de se preder por aí e ficar à deriva. Elas, as mães, são nosso pronto socorro. É pra onde vamos, quando estamos doentes, do corpo ou da alma. Um chá, feito por uma mãe, cura mais que o melhor remédio. Um abraço dela é melhor que um antidepressivo. Não seria exagero se eu dissesse que o sistema prisional não estaria como está se alguns conhecessem as chineladas e as broncas delas. (não sou adepta da violência, mas as mães são melhores corretivos que os presídios). As mães são escola. Nossa primeira escola. É com quem aprendemos a falar (por isso minha filha fala desde os 7 meses), a nos comunicar, a sermos quem somos. Elas, verdadeiras professoras, extraem de nós o melhor que temos. As mães são ainda mais mães, quando as filhas se tornam mães. Elas esquecem (só um pouquinho) que são avós, para que possa lembrar da filha recém parida e cuidar dela para que ela possa cuidar da cria. Essa parte, só conheço na teoria. Vendo outras mães. Eu não pude contar com a minha nessa hora tão difícil. Mas você que está lendo isso e já passou pela situação, pode me confirmar.
Dói ficar doente, quando a nossa mãe não está mais aqui.
Dói olhar uma foto no álbum e lembrar que não vai mais ouvir aquela voz. Dói ter uma dúvida sobre uma decisão e não ter a quem consultar. Dói muito querer chamar pela mãe, na hora do desespero e lembrar que agora VOCÊ é a mãe.
Somos pipas nas mãos delas. Umas são mais radicais, soltam mais a linha pra nos ver subir mais alto. Outras, mais medrosas, seguram o quanto podem, mesmo sabendo que as pipas foram feitas para voar. E na hora que a linha parte, na hora que a pipa quebra, logo, logo, ela recolhe para consertar e devolver novinha em folha pro ar.
Minha mãe me deixou muito rápido. isso porque ela primeiro deixou de andar ao meu lado. Depois, não pode mais me abraçar e, por fim, não pode mais me aconselhar. A E.L.A. levou tudo. E, no dia 06 de Março de 2015, levou a unica coisa que restava, o Olhar, que era com o que ainda nos comunicávamos.
Hoje, mais tarde, estaremos em oração com ela e por ela. Vamos celebrar a Santa Missa em sua memória, da melhor forma como ela gostava de ser lembrada. Até lá, paciência. o dia mal começou.



quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Tempo de Natal.

Este ano, vários abrigos e instituições que cuidam de idosos inovaram no pedido de presentes de natal. Colocaram plaquinhas com os nomes dos idosos, a idade e o que eles gostariam de ganhar.
A maioria pede coisas muito simples: uma colônia, um batom, uma camisa, um dominó e até um panetone.
Esta semana, enquanto me fiz de estagiária de Papai Noel, me deparei com esta mensagem: Madalena, 89 anos, um relógio.
Tal pedido me chamou a atenção. Eu nunca usei relógio, embora já tenha comprado um ou outro, só porque achei bonitinho. Tenho uns 2 de gatos, mas nem uso, e nem sei se ainda funcionam. comprei por causa dos gatos. :p Nem minha casa tem relógio. Só o do micro-ondas e dos aparelhos eletrônicos (dvd, tv, etc...) que, quase sempre, estão desligados. Apesar de não usar relógio, sou bastante pontual. E não gosto de atrasos.
Fui acostumada a olhar a dinâmica do dia e supor a hora. De tanto fazer isso, acerto fácil.  De vez em quando, uma espiadinha rápida no visor do celular para saber a hora do ônibus, sair do trabalho e ir buscar a filha na escola.  Para quem não sabe, não ter relógio é ótimo para quem é ansioso, como eu. Ver as horas o tempo inteiro me causa uma certa pressa. Pressa em fazer as coisas e pressa em viver. Eu não quero ter pressa. Viver cada coisa a seu tempo. Ver as horas o tempo inteiro, faz o tempo passar mais devagar e a gente, sentir vontade de acelerar.

Muito bem, eu dizia que dona Madalena, que mora num abrigo de idosos e tem 89 anos, quer ganhar um relógio. Não especificou se seria um relógio de mesa, ou de pulso. Também não disse se seria eletrônico ou mecânico, com ponteiros e números bem grandes.

Então fiquei pensando por que uma pessoa de 89 anos gostaria de possuir um relógio? Pensei em quanto tempo ela já havia vivido. Será que ela teve irmãos? será que são vivos? Como foi a infância dela? Foi casada? Teve filhos? Estão vivos? E se teve e estão vivos, por que eles a colocaram ali? Será que algum parente a visita? Passei a romancear uma história para dona Madalena. Nove décadas! O quanto ela já viu desse mundo. Alegrias, tristezas, vitórias e derrotas. E mesmo assim ainda se interessa por contar o tempo. Será que ela quer contar o tempo que lhe falta? Como se pudéssemos saber o dia de nossa partida. Não seria bom saber. Será que ela é ansiosa, que nem eu, e quer ver passar logo o tempo, para chegar um dia que gostaria de ver? Ou será que ela espera por alguém e está contando os minutos para isso? Pode ser também que, Já que olhar para as horas faz o tempo passar mais devagar, talvez ela goste muito de viver e queira espichar essa vida, o máximo que puder.
Só tem um jeito de saber...

Feliz Natal!
Que o tempo seja bom com todos nós!


quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Em nome e o nome das velhas amizades.

* todos os nome são fictícios, mas a histórias são reais.

A vida é muito simples. As pessoas complicam a vida. E digo mais: As pessoas adultas, complicam as coisas.
Hoje me peguei pensando no quanto as crianças simplificam as coisas que nós, adultos, adoramos complicar.
Outro dia, por causa do lado maravilhoso das redes sociais, reencontrei uma amiga de infância, que não via ha muito, muito, muito tempo.
Percorri minhas lembranças, onde a 'Jubs'*, corria comigo para pegar o ônibus. Tinha que pegar aquele, porque o próximo vem lotado. Eramos amigas. passávamos bons e maus momentos. Ela ia à minha casa e eu à casa dela. Fazíamos tarefa de casa...jogávamos vôley no intervalo das aulas.
De repente, passei a percorrer outras lembranças... de outros amigos, da mesma infância. Dos apelidos, das brincadeiras.
E, no mais gostoso das lembranças, sou interrompida por alguém me chamou de Doutora e Senhora. Mal prestei atenção no que ele disse. Parei no "Senhora". Lembrei que não tenho mais 8 anos e que agora sou gente grande. Gente que trabalha, produz, que tem filho, casa para sustentar... Que a Jubs, agora se chama Dra. Juliana* e administra uma empresa. Em fração de segundos, todas as crianças da minha infância cresceram e se tornaram senhor e senhora.
Mas eu dizia, que havia encontrado uma amiga, que não via há muito tempo. Tive dúvidas se o tempo que não nos víamos era suficiente para não chama-la mais pelo apelido. E se ela não gostar? Ou, se ela achar que estou com muita "liberdade" ou sendo pejorativa? Melhor chama-la pelo nome de batismo. Pronto. Aí não tem erro. Centenas de pessoas a chamam assim. A pessoa já está acostumada a ouvir o próprio nome.
Menos quando o interlocutor é um dos seus grandes amigos da infância.
Não importa o que ele fez pelo caminho. Não importa quais os caminhos foram percorridos. Não importa se hoje meu amiguinho de pelada é  gerente de uma multinacional. É o Pedrinho* é pronto!
Mas o receio de ser repreendido, às vezes nos impede de tratar os amigos, como antigamente. Por isso que digo que é coisa de adulto complicar as coisas. Que importa se a Dr.  Fábio* trabalha num consultório chique, mas quando está fora dele, se chama simplesmente Fabinho? Ele deixou de ser ele, por acaso? Talvez sim. E esse é o medo que temos.
Outro dia, conheci um tabelião que era amigo do irmão e que por isso, o chamavam de Zezinho*. Mas eu não podia ir ao trabalho dele e chamá-lo de Zezinho. Ali é Dr. José*. Então, fiquei tão preocupada em chamá-lo de Dr. José*, que me atrapalhei toda e acabei chamando o moço de Dr. Zezinho*. Foi horrível. morri de vergonha. Mas ele riu.
Talvez tenha lembrado de quando era o Zezinho*. E que certamente tinha sonhos de ser alguém grande na vida e virar o Dr. José. Mas, se ele riu, é porque o Zezinho ainda habita aquela mente.
Depois dessa reflexão, tomei uma decisão. Você, meu amigo, que está lendo isso, não importa quantos anos tenha. Se somos amigos, seremos como na infância. E se a nossa amizade durou tempo o suficiente, para ainda nos encontrarmos e reconhecermos, é porque podemos e devemos nos tratar da mesma forma de sempre. Com o mesmo respeito e carinho. Com a mesma sinceridade. Pois disso é feito a amizade.



quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Dia das Crianças de verdade.

Quem foi criança nos anos 80s e 90s deve lembrar daquela brincadeira que tinha no programa Domingo no Parque, comandada por Sílvio Santos:
- quer trocar essa incrível bicicleta de 18 marchas por uma meia furaaaadaaa?
Aí a pobre criança, dentro de uma cabine isolada acusticamente, respondia
- siiimmm
Para o nosso desespero.
Pois então.
Sarah fez isso essa semana, só que sem a cabine.
Trocou um bibite por 2 carinhos de plástico para aumentar sua frota.
Eu queria que ela aceitasse o bibite.
Juro.
Hoje pela manhã abrimos os presentes juntas. O sorriso do rosto dela, colocou naqueles carrinhos simples um valor que eu jamais vou poder comprar.
O valor da felicidade.
Da inocência da criança
Da alegria de ser criança.
Ela repetia: "um cao, mamãe. Caoo de Sarah. É minha! "
E saiu feliz da vida com os carros novos.
Que todas as crianças do mundo possam encontrar alegria de alguma forma: num abraço, num lanche gostoso, num banho de mangueira, que possam sorrir com frequência, mesmo sem motivo.
E Que Nossa Senhora Aparecida os proteja e guarde como mãe.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

A felicidade da mãe da Cinderela.

Entre as poucas coisas que tiravam a minha mãe do sério, estava a minha sina de perder sapatos.
Eu explico. Nunca gostei de andar calçada. Em casa, sempre estou descalça (e, as vezes, fora de casa também). Uma Havaianas dura uma vida comigo, de tão pouco uso.
Quando eu era criança, não perdia os calçados pelo numero. Perdia porque tirava dos pés para brincar e, simplesmente, não lembrava onde havia "guardado" (ou alguém que o encontrava e o achava mais interessante que eu, resolvia dar-lhe utilidade).
Ainda hoje, por baixo da mesa do trabalho, solto as tiras das sandálias, ou tiro o pé de dentro das sapatilhas. Já aconteceu de ir atender a um telefonema descalça, pois esqueci de calçar (e, ainda bem, ninguém percebeu).
Nunca tive duzias de sapatos. Um pra sair, outro para trabalhar, outro para festa... e assim vai... vou comprando de acordo com a necessidade.
Pois bem, voltando no tempo, a minha mãe me fazia de boneca. Tem alguns amigos meus que vão ler isso aqui e que podem comprovar o que estou dizendo. Eu tinha os vestidos mais exuberantes da cidade. Uma simples festa de aniversário era um e-ven-to. Mesmo a minha família não tendo muitas posses, ela sempre organizava o orçamento para vestir a sua boneca viva, desde as meias finas, até os vestidos de organdi e cambraia bordada. Os sapatos também eram finos: envernizados, com fivelinha de lado.
O fato é que, além de amar ficar descalça, eu era, por assim dizer, um moleque. Brincava de bola na rua, de pega, de queimado, de barra ou bandeira e tantas coisas maravilhosas que faziam parte da vida das crianças dos anos 80s.
Assim, o verniz dos meus sapatos não suportavam umas 2 ou 3 partidas de futebol. Isso quando eles não era usados como traves para o jogo. A meias eram praticamente descartáveis. Uso único. Sempre furavam.
Eu sempre levava um carão. Sempre ela me dizia que aquilo era caro e que custava dinheiro. Ela me fazia sentir culpa, por ela andar igual a um saco de estopa da estiva e eu sempre arrumada com o que havia de melhor. Em vão... Eu até me sensibilizava com a situação. Mas eu era criança. E criança é muito jovem para sentir tristeza por tanto tempo.
O tempo passou e eu me tornei mãe de uma menina. Ela ainda é pequena, mas pelo que pude perceber, não gosta muito de ficar calçada. Ela aprendeu desde novinha a bater os pezinhos, um no outro, para os sapatos caírem e hoje já desamarra os próprios sapatos e os deixa pelo caminho, como uma Cinderela moderna, que quer correr e ser feliz.
Ontem, estávamos no shopping. Ela tirou os sapatos. Mesmo sendo uma sapatilha que amarrava na canela, não foi empecilho para que ela ficasse descalça, como eu em outros tempos.
Ela brincou na loja, enquanto resolvíamos umas coisas. Andou e correu a vontade, livre. Os pezinhos pretos do chão do shopping, os cabelos desalinhados, as bochechas vermelhas e o sorriso dela, passavam para mim a exata sensação que eu ja conhecia muito bem.
Fomos para casa e, quando cheguei, adivinhem...
Só chegou um pé do sapato em casa. Foi a segunda vez dela. A primeira, foi no São João. Na época, não fiz associação com as minhas perdas da infância. Achei que era um evento isolado.
Procurei na bolsa dela, na minha, no carrinho dela... nada do bendito.
Hoje de manhã me peguei sorrindo, lembrando das broncas da minha mãe. E pensando nas broncas que ainda vou dar nela. Sim, porque se em tão pouco tempo já perdeu 2 sapatos, acho que ainda verei essa Cinderela chegar em casa muitas vezes, suada, feliz e descalça.
Não tem jeito... o sapatinho se perdeu. era tão lindo.
Acredito que ele esteja no submundo dos sapatos perdidos das meninas serelepes. Aquelas livres, que andam descalças e que tem mães que fazem de tudo para vê-las lindas e, ainda mais, felizes. E que, por isso mesmo, são igualmente felizes.